Não sei se já tinham ouvido falar destes dois tipos de hipertrofia mas, como têm surgido várias ideias e estudos relativos a estes dois tipos de hipertrofia, decidi apresentar um pequeno artigo no blog a apresentar as ideias chave e a tentar desmistificar esta ideia.

 

Primeiro, é necessário perceber o que são as Miofibrilas e o Sarcoplasma:

Miofibrilas – correspondem aos componentes contrácteis das fibras musculares, compostas por proteínas como a miosina e a actina. A contracção muscular acontece quando os filamentos de actina (filamentos finos) deslizam sobre os filamentos de miosina (filamentos grossos).

Sarcoplasma – corresponde ao conteúdo semi-líquido que rodeia as miofibrilas. De certa forma, é comparável ao citoplasma de outras células mas contém quantidades de glicossomos (grânulos de glicogénio armazenado) mais elevadas e quantidades significativas de mioglobina (proteína de ligação de oxigénio e cálcio).

 

De seguida, vou resumir as ideias por detrás destes dois tipos de hipertrofia.

Existe muito a ideia de que diferentes tipos de treino potenciam um ou outro tipo de hipertrofia.

Habitualmente, o que se ouve é que treinos pesados, com poucas repetições, favorecem a hipertrofia miofibrilar e desenvolve tecido muscular tão forte (ou mais) como aparenta ser.

Por outro lado, treinos com um volume superior, isto é, com um número de repetições e séries maior, resulta numa maior hipertrofia sarcoplasmática, ou seja, favorece o crescimento do sarcoplasma (composto por fluído). Como o sarcoplasma não tem capacidade contráctil, pois é um líquido, supostamente, é possível ganhar muito volume muscular sem que isso signifique, necessariamente, um aumento da força.

Mas o que é que acontece na realidade?

A ciência tem demonstrado várias vezes que o tamanho do sarcoplasma é limitado pelo tamanho das miofibrilas. Isto significa que a quantidade de sarcoplasma que uma célula muscular consegue contem é sempre limitada pelo tamanho da miofibrila dentro dela.

Vários estudos tentaram diferenciar os dois tipos de hipertrofia, através de diferentes protocolos e parâmetros de carga. Contudo, em todos eles, a hipertrofia miofibrilar ocorreu sempre em quantidades 2 a 3 vezes superiores que a hipertrofia sarcoplasmática. Adicionalmente, constataram que, independentemente das técnicas utilizadas, é impossível aumentar o conteúdo de sarcoplasma das células musculares sem que ocorra também o aumento das miofibrilas.

Então porque é que diferentes tipos de treino conduzem a diferentes tipos de resultados?

Isto deve-se a um dos princípios do treino – o princípio da especificidade. Conseguimos obter melhorias de performance nos exercícios, movimentos e grupos musculares trabalhados. No entanto, trabalhar uma determinada componente não significa, necessariamente, uma melhoria noutra. Por este motivo, atletas que trabalhem com séries mais longas estão preparados para suportar esse tipo de trabalho e, por isso, os músculos respondem em conformidade. Por outro lado, atletas que estão habituados a treinar com séries curtas, habituam o organismo a isso mesmo, induzindo as alterações e adaptações no corpo para que este consiga suportar esse tipo de treino.

Por este motivo, muitas vezes vemos atletas com níveis de hipertrofia menores serem mais fortes, isto é, conseguirem levantar pesos mais elevados, do que atletas com níveis de hipertrofia superiores, pois o treino dos dois tipos de atletas não é o mesmo, o que resulta em diferentes resultados finais.

Conclusão

Concluindo, a investigação está sempre a evoluir e, por isso, mesmo algo que esteja enraizado na nossa sociedade como dado adquirido, pode ser refutado no futuro. Por este motivo, é importante acompanhar sempre a investigação e ter um juízo crítico relativamente a tudo o que é dado como certo ou absoluto.

Neste caso, a ideia de que existem dois tipos de hipertrofia, e que estes dependem do tipo de treino efectuado, não tem qualquer suporte científico, tendo sido refutado por investigações recentes.

 

Bons treinos!!

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Investigações:

(1) – Selective activation of AMPK-PGC-1alpha or PKB-TSC2-mTOR signaling can explain specific adaptive responses to endurance or resistance training-like electrical muscle stimulation;

(2) – Stimulation of human quadriceps protein synthesis after strenuous exercise: no effects of varying intensity between 60 and 90 % of one repetition maximum (1RM);

(3) – No effect of creatine supplementation on human myofibrillar and sarcoplasmic protein synthesis after resistance exercise;

(4) – Coordinated collagen and muscle protein synthesis in human patella tendon and quadriceps muscle after exercise;

(5) – Protein synthesis rates in human muscles: neither anatomical location nor fibre-type composition are major determinants.

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